sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

O CANTEIRO

Numa autocrítica antecipada, reconheço que o texto que se segue, além da minha natural arrogância, é reincidente, imperfeito, incompleto na abordagem do assunto e pretensioso. Portanto, leiam com alguma condescendência, afinal, sou apenas um analfabeto.

Todos sabem que eu jamais seria politicamente correto, mesmo que eu tentasse, como sofro de rejeição a lactose, em algum momento não conseguiria segurar os gases e cairia por terra toda e qualquer postura educada que eu pudesse querer exercer. Sendo assim, me permito algumas reflexões sobre o atuar dos atores (alguns meus amigos e até mesmo eventuais patrões), obviamente não revelarei nomes, afinal sou politicamente incorreto, e isto não é sinônimo de burrice.

Vamos lá, há anos ouço depoimentos/entrevistas/declarações em que atores, com alto grau de preconceito, ao fazerem um personagem, recorrem a pesquisas e laboratórios que os levam ao encontro de desafortunados sociais e psicológicos como se eles próprios fossem seres humanos acima do bem e do mal, que fazem uma concessão magnânima em representar esses tipos. Isto ocorre com uma incidência constante nas entrevistas. Por exemplo: - Eu fui a um puteiro para observar as putas; - Eu fui a uma boate gay para observar e assimilar melhor os jeitos e trejeitos gays.. Ora, que falta de humildade. Nós atores somos essências como seres humanos que somos, portanto, capazes de tudo. O homem/pai capaz de jogar a filha pela janela é o mesmo homem/transeunte capaz de tentar aparar a menina que cai vertiginosamente do oitavo andar. Pois é, somos esse homem capaz de extremos tão opostos quanto humanos. O que temos que observar com a nossa racionalidade é o nosso turvo/claro interior psíquico e, como humanos, exercer o nosso livre arbítrio para uma vida cidadã e enquanto atores/humanos usar as nossas saudáveis ou escrotas potencialidades internas para emprestarmos aos nossos personagens, sem tratá-los com preconceitos, pois, eles e nós somos a mesma pessoa, capaz de cultivar a erva daninha e ao mesmo tempo o lírio, no mesmo jardim.

O dia em que o ator entender que nada está fora dele como material de construção do personagem e parar de agir como um embuste, ou melhor, um imitador, chegará à proeza divina de servir como canteiro dos personagens que ali possam brotar. Por fim, senhores atores, não sejam hipócritas ao saírem em busca de uma possibilidade cênica numa boate, num bar, num manicômio e etc... quando você mesmo é o canteiro de todas essas coisas, afinal, o mesmo homem/pai que joga a filha do oitavo andar é...

Aceitem isso, e serão verdadeiros atores e homens. Ou, então, serão meros imitadores, sem possibilidade de atingir em um segundo de suas ricas vidas o estado divino da arte.

Pois é, falei.
Não me levem tão a sério, em verdade, na interpretação vale tudo.

Tonico P.

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