terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

REVESAMENTO DE GERAÇÕES OU PASSANDO O PAU

24 de fevereiro de 2012, 16:30h, entro num cinema para assistir pela primeira vez a uma projeção em 3D. Não sei o que esperar, mas me ponho à disposição de mim mesmo, para experimentar e quem sabe gostar. Estou aberto sem reticências a participar desse acontecimento e na minha cabeça apenas me move a curiosidade. O filme começa e, engraçado, eu não me sinto num cinema (primeira impressão), mas não sei explicar de forma racional onde estou. Apenas fico saboreando as imagens sobrepostas e constatando nelas um quê de exibicionismo que me leva à humilhação, não por falta de uma explicação técnica para o que vejo, mas sim por uma total falta de preparo, emocionalmente falando. Constato que assim como o surgimento do computador, o 3D me causa, me deixa a nítida certeza, que ambos foram feitos para as gerações mais novas, o computador para minhas filhas mais velhas, Daniela e Thaia, e o 3D para os meus filhos mais novos, Antônio e Nina e meu neto Benjamim com seus poucos anos de total liberdade assimilativa.

Eu, com 63 anos, não conseguirei nunca ver o computador, o 3D, com a intimidade que convivi com o rádio, por exemplo, e até mesmo com a televisão. Eu teria que nascer outra vez para conviver com esses avanços tecnológicos, sem embotar meus pensamentos e nem turvar meus olhos. Portanto, recolho-me à incapacidade de me tornar íntimo desses avanços e me abrigo na tribo do “eu sozinho” para trocarmos aspectos de nossa incapacidade, eles simplesmente não existem, talvez extasiados pelo que viram, talvez por não aceitarem que as suas emoções não estejam preparadas, afinal, não podem deixar de ser modernos, mesmo que isso não signifique contemporaneidade. Mas, esperem. Adentra-me a cabeça ou nasce uma certeza: a de que os jovens de hoje, daqui a 50 anos, viverão este mesmo impasse com o qual me deparo hoje diante do moderno (não contemporâneo), e só isso justificaria que cada geração receba o bastão da anterior. Eu fico por aqui, mergulhado na minha incapacidade humana.

Adelante pois, Antonio, Nina, Benjamim e Isa, que está vindo, até o dia em que seus filhos e netos, daqui a mais ou menos, 20, 30, 40, 50 anos os levarem para assistir a uma projeção em que os cheiros das imagens tomarem conta da sala e seus narizes reclamarem com saudade do cheiro do cinema antigo.

Tonico “Passando o Pau” Pereira.

CARÊNCIAS II

Sou carente. Não é a primeira nem a última vez que digo isso, e a cada dia da vida descubro uma carência nova, mas de há muito tempo convivo com uma que se apresenta até hoje como insuperável, a do dinheiro. Não é que não consiga ganhá-lo, não, consigo sim, claro, com a dificuldade inerente ao homem, como brasileiro que sou, mas com uma velocidade dez vezes maior do que quando o ganho ele me rejeita e parte na velocidade da luz em direção a outros bolsos, onde repousam de maneira carinhosa e confortável. E eu amargo a sua falta constante em meu poder. O que fazer? Tenho uma ideia (para qual conto com a discrição de todos vocês que me seguem) que me levará a conquistá-lo, com alguma fartura, e acumulá-lo por algum tempo, e que os juros venham a se adicionar ao principal me proporcionando uma aposentadoria (perto de acontecer) digna de um brasileiro (Eu) que trabalhou a vida inteira. Eis a ideia, grande ideia (muito grande) que me levará à independência. É sabido que aos jovens (pelo menos comigo foi assim) é dado o privilégio de uma ereção consistente e até mesmo duradoura, isto não é nada a ser alardado como vantagem, já que o mesmo é capaz de se excitar com um cú de Cambaxirra. Mas, eu poderia oferecer um diferencial: eu, com 63/4 anos, com um poder de ereção maior do que o dado a um jovem (sem pensar em Cambaxirra), desafiando a gravidade e o tempo, me apresentando em shows pelos palcos do Brasil inteiro e também em festas de ricos (eles dirão: não, hoje a atração do meu aniversário não será o Gilberto Gil, será o Tonico Pereira!) desafiaria os presentes e os humilharia, levando para casa uma polpuda bolsa pela minha magnífica performance. Pois é, seguidores do meu blog, descobri que isso é possível e real. Estou disposto a desenvolver um projeto de captação sigilosa entre os meus amigos mais próximos e confiáveis e me submeterei a um implante de uma prótese peniana inflável de três volumes (última geração) para começar a minha carreira de shows que, certamente, me levará ao dinheiro, maior do que afiro sendo ator. Mas, amigos seguidores, conto com a discrição de vocês todos, homens e mulheres e, fundamentalmente, amigos, para que o implante seja uma coisa mantida em segredo absoluto, para que a minha ideia se torne vitoriosa e eu não seja processado por fraude. Talvez eu comunique apenas ao governo americano exigindo segredo, afinal, tenho que entender suas preocupações com armas nucleares. Portanto, faço de vocês amigos a partir de agora, meus especiais empresários, para que agendem exibições pelo Brasil inteiro. As minhas exigências são poucas, a saber: Hotel cinco estrelas, viagem de trem ou automóvel, quando impossível, por avião mesmo (preço mais caro), sendo que a sua comissão será de 15% do valor bruto. Também não vou dar nota fiscal. O resto é silêncio.

Obrigado,
Tonico.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

ENQUANTO O ABADÁ NÃO CHEGA...

Não sou mais um folião. Já fui. Desses de sair de casa pra comprar cigarro e não voltar. Mas sei que brinquei os melhores carnavais de rua tanto do Rio quanto de Niterói. Tudo era muito espontâneo e se gastava muito pouco. Era uma autêntica democracia carnavalesca. Depois, o carnaval de rua sumiu vítima da violência e também da falta de dinheiro, mas eis que, de repente, qual Fênix, ele ressurge no Rio com força e espontaneidade democrática. São blocos, blocos e mais blocos tomando as ruas do Rio como antigamente. Que bom para os que hoje tem força para desfrutá-lo os quatro dias! Mas, cuidado folião carioca... isso tudo está acontecendo agora, hoje, mas nada nos garante que, em breve, esses mesmos blocos soltos passem a vender abadás e lá se vai a nossa democracia carnavalesca...
O exemplo vem da simpática Bahia. Eu não sei não... sabemos que o baiano é tão simpático quanto vagaroso nas suas atitudes e gestos, mas sabemos também que o impulso mercadológico anda ligeiro correndo atrás dos poucos caraminguás do inocente folião e para isso não hesitarão em confiná-lo numa organização elitista em que os que mais podem financeiramente saem protegidos por seguranças e cordas.
Portanto, rezemos para que pelo menos como na Bahia nos sobre a “pipoca”... Afinal, pelo menos a insegurança é democrática e nos põe bem mais perto de uma catarse suada e livre onde impera a alegria de um povo que quer e precisa se divertir um pouco pelo menos nesses quatro dias e principalmente vestidos de um anárquico qualquer coisa...



tOnIcO, o pierrô apaixonado!

CARÊNCIAS I

Sou carente, muito carente, e isso tem me levado (há alguns anos) a pensar que nada mais triste do que um enterro sem ninguém pra nos prestar a última homenagem, que é o comparecimento ao cemitério. Aliás, no meu caso, espero que todos, indistintamente, tenham uma história escabrosa pra contar sobre a minha vida. Eu me alimento desta possibilidade, embora nos dias de hoje seja muito difícil um enterro cheio. Eu mesmo já fui solicitado, junto com meu amigo Ginaldo, a sair da capela em pleno velório. Só sei que eram 10 horas da noite e o perigo iminente de um assalto era maior do que a coragem de estarmos ali, daí me ocorreu uma ideia: que tal um livro de presença antecipado, assinado por todos os meus amigos demonstrando a clara intenção de estarem ao meu lado nessa despedida, é claro que eles não seriam obrigados a comparecer, mas eu, em vida, estarei sempre acompanhado deste livro, o enriquecendo a cada instante com mais uma assinatura e então, enquanto vivo, estarei feliz por saber que essas assinaturas representam a intenção do comparecimento. E no dia da minha morte tenho certeza que mesmo sem comparecerem, forçosamente, pensarão: Tonico, eu sei, eu assinei, mas hoje não vai dar.

Aliás, também pensei no meu epitáfio:

TONICO PEREIRA
ENFIM,TOTALMENTE DURO.


Tonico!

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012






Para a apreciação dos meus seguidores: em breve o Analfabeto que Escreve divulgará os vinhos B&b de sua predileção, na esperança de receber algum deles de presente...

Tonico!

ZZZzzzZZZzzz... ou Hibernando no Verão

Estive de férias (Zzz...) e isto me levou a deixar o blog de lado; pois não é que fui tomado por uma insegurança enorme quanto a aqueles que vez por outra me dão o prazer de acessá-lo, e entrei numa paranóia de que essas dadivosas pessoas podem me esquecer pra sempre e nunca mais lerem o que escrevo com muito prazer e nenhuma maestria, afinal sou um analfabeto (com caráter) que escreve. Então, vamos lá. Pois é, de há muito tempo me incomodava a ausência de opinião das pessoas nesses tempos atuais, aí incluindo grandes formadores de opinião da minha geração, que estão calados. E quando se pronunciam é sempre de forma elogiosa e sem caráter, ou seja, a síndrome do politicamente correto paira como sombra nefasta sobre as nossas cabeças, ou pior, talvez para não perder público eles se atualizam referendando quase sempre pessoas sem talento, mas de sucesso momentâneo, numa troca comercial. Eu te apresento um novo público e você me dá um selo de qualidade e nós seguimos felizes, aumentando ambos o nosso mercado. Enfim, tenho saudades de um tempo em que as opiniões eram discutidas (geralmente em mesa de bar) com grande poder de transformação e formação dos discutidores. E eu fico aqui, completamente na contramão dos tempos e pronto para dizer: adoro esse ator ou, ao contrário, que merda é esse ator, e não excluo a possibilidade de ser eu mesmo considerado um merda, mas sempre por alguém de caráter.

Tonico.
Em tempo: posso estar completamente errado, mas novamente acordado!

O CANTEIRO

Numa autocrítica antecipada, reconheço que o texto que se segue, além da minha natural arrogância, é reincidente, imperfeito, incompleto na abordagem do assunto e pretensioso. Portanto, leiam com alguma condescendência, afinal, sou apenas um analfabeto.

Todos sabem que eu jamais seria politicamente correto, mesmo que eu tentasse, como sofro de rejeição a lactose, em algum momento não conseguiria segurar os gases e cairia por terra toda e qualquer postura educada que eu pudesse querer exercer. Sendo assim, me permito algumas reflexões sobre o atuar dos atores (alguns meus amigos e até mesmo eventuais patrões), obviamente não revelarei nomes, afinal sou politicamente incorreto, e isto não é sinônimo de burrice.

Vamos lá, há anos ouço depoimentos/entrevistas/declarações em que atores, com alto grau de preconceito, ao fazerem um personagem, recorrem a pesquisas e laboratórios que os levam ao encontro de desafortunados sociais e psicológicos como se eles próprios fossem seres humanos acima do bem e do mal, que fazem uma concessão magnânima em representar esses tipos. Isto ocorre com uma incidência constante nas entrevistas. Por exemplo: - Eu fui a um puteiro para observar as putas; - Eu fui a uma boate gay para observar e assimilar melhor os jeitos e trejeitos gays.. Ora, que falta de humildade. Nós atores somos essências como seres humanos que somos, portanto, capazes de tudo. O homem/pai capaz de jogar a filha pela janela é o mesmo homem/transeunte capaz de tentar aparar a menina que cai vertiginosamente do oitavo andar. Pois é, somos esse homem capaz de extremos tão opostos quanto humanos. O que temos que observar com a nossa racionalidade é o nosso turvo/claro interior psíquico e, como humanos, exercer o nosso livre arbítrio para uma vida cidadã e enquanto atores/humanos usar as nossas saudáveis ou escrotas potencialidades internas para emprestarmos aos nossos personagens, sem tratá-los com preconceitos, pois, eles e nós somos a mesma pessoa, capaz de cultivar a erva daninha e ao mesmo tempo o lírio, no mesmo jardim.

O dia em que o ator entender que nada está fora dele como material de construção do personagem e parar de agir como um embuste, ou melhor, um imitador, chegará à proeza divina de servir como canteiro dos personagens que ali possam brotar. Por fim, senhores atores, não sejam hipócritas ao saírem em busca de uma possibilidade cênica numa boate, num bar, num manicômio e etc... quando você mesmo é o canteiro de todas essas coisas, afinal, o mesmo homem/pai que joga a filha do oitavo andar é...

Aceitem isso, e serão verdadeiros atores e homens. Ou, então, serão meros imitadores, sem possibilidade de atingir em um segundo de suas ricas vidas o estado divino da arte.

Pois é, falei.
Não me levem tão a sério, em verdade, na interpretação vale tudo.

Tonico P.