terça-feira, 23 de agosto de 2011

A BEM DA VERDADE 1

Faz muito tempo, eu tinha um Corcel II, azul-claro. E andava sorridente, sem consciência exata de sua cor, conquistando ou tentando consquistar as meninas do Rio de Janeiro. Um dia, uma felizarda, adentrou meu carro. Em meio às peripécias eróticas que vieram a acontecer dentro do veículo, ela deixou transparecer languidamente sua calcinha – epa! – azul, da mesmíssima cor do Corcel. Bêbado, como sempre estava naquela época, não gravei o nome da moça. Mas se perpetuou em minha cabeça e se espalhou pelo Rio de Janeiro a lembrança da agora denominada cor azul-calcinha de meu carro.

TONICO PEREIRA – UM ATOR IMPROVÁVEL
UMA AUTOBIOGRAFIA NÃO AUTORIZADA
Pg.389.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

IMPRÓPRIO COM SALADA DE INSANO


Certa quinta-feira, lá pelas 18h - que era o meu único dia de folga, em termos - depois de exaustivas negociações bancárias tentando rolar uma dívida e conseguir pagar outras tantas, chegam em casa meus filhos Antonio e Nina, sempre ávidos por uma brincadeira que inclua a minha exausta presença e participação. Adianto-me e proponho ao Antonio:

- Vamos brincar de comer um liquidificador!

Garanto que não esperava uma adesão a minha ideia de forma tão entusiasmada e urgente. Eis que Antonio irrompe pela sala com a parte de cima (o copo) do liquidificador pronto para comê-lo, após colocarmos pimenta e açúcar (por sugestão dele). Quase choro por ter tido a infeliz ideia, e mais ainda por ter insinuado ao meu filho um banquete imponderável. Tento me corrigir e falo:

- Antonio, foi uma brincadeira de um pai velho sem apetrecho físico para uma boa partida de futebol. Comer um copo de liquidificador, mesmo com pimenta e açúcar dentro não passa de um gesto impróprio e insano.

Ele apresentou uma carinha desapontada e depois abriu um sopro de argúcia.

- Pai, então vamos comer o ‘impróprio com salada de insano’! Eu vou chamar a Nina que está fazendo xixi no banheiro.

E saiu correndo.

- Nina, Nina! Vamos comer ‘impróprio com salada de insano’ com o papai!

Fico perplexo. E agora? Ouço a descarga da privada e os dois aparecem. Antonio alegre com o sorriso canhanha e Nina séria me perguntando:

- Pai, o que é ‘salada de insano’?

Vem a mim uma ideia que me daria tempo para pensar em alguma coisa que me livrasse daquela situação.

- Que tal irmos ao Parque dos Patins? Disseram-me que lá tem um ‘impróprio com salada de insano’ que é uma maravilha.

Lá chegando perguntava a todos os pipoqueiros e outros vendedores se tinham ‘impróprio com salada de insano’. Alguns nem chegaram a responder, outros olhavam de forma agressiva e simplesmente diziam que não. Frustrados, eu, Antonio e Nina, sentamos num banco. Nina já começava a choramingar e Antonio balançava as pernas como se dissesse ‘meu pai é um bobo’, quando vislumbro ao longe um vendedor de algodão doce. Gritei:

- Achei!

- Onde? Perguntou Antonio.

- Lá!

- Mas é algodão doce… diz Nina.

- Pois é, é impróprio porque sou diabético, não posso comer açúcar.

Fomos nos aproximando e de perto notei a presença de três algodões doces anilinados de verde, explodi de alegria:

- E tem três com ‘salada de insano’, são os verdes. Obrigado, amigo. Quanto custa os três ‘impróprios com salada de insano’?

Ele não fica chateado com a pergunta, apenas diz:

- 6 reais, os três. O que mesmo que o senhor disse?
- ‘Impróprio com salada verde de insano’.

E fomos nos lambuzando pela Lagoa até chegar em casa, prometendo uns aos outros não contar para a Marina que comemos algodão doce, mas ‘impróprio com salada de insano’! Muito mais adequado a minha diabete.

Tonico.