terça-feira, 22 de março de 2011

...?TECNOLOGIA?...

Não me agrada a tecnologia. E quanto mais alta, mais baixa a minha admiração. Não acho que o homem deve ir além dos seus recursos naturais e artesanais, estes sim o verdadeiro progresso. Estamos neste momento vivendo mais uma tragédia, enquanto natural, é terrível, mas natural, somos homens convivendo com o perigo que é simplesmente viver. Podemos correr dele, nadar para longe dele, ou enfrentá-lo com socos e pontapés, mas eu nunca vi ninguém dizer que escapou de um desastre aéreo ou radioativo pelo seu belo condicionamento físico e mental, ou seja, um desastre aéreo é covarde em sua essência. Quer coisa mais covarde do que você lutar contra um terremoto com todas as suas forças, sobreviver, lutar contra um tsunami, sobreviver, e depois - naquele cenário desolador, onde vários mortos naturais o cercam, você se sente vitorioso por ter ganhado a guerra - mas ao respirar fundo comemorando o dever cumprido, o maior que cabe a espécie humana que é sobreviver, neste prosaico respirar, sem nenhum ato de violência aparente, você é contaminado por partículas atômicas de alta tecnologia. E você, que salvou seu filho das intempéries naturais, morre junto dele, sem poder correr da nuvem radioativa tecnológica, sem poder dar-lhe um soco na cara, sem poder xingar, apenas morre, sem nem lágrimas de reação.

Tonico.

2 comentários:

  1. As copas balbuciam o que o mar traz no final da tarde. As crianças, excitadas pelo novo, correm embaladas pelo canto sublime da natureza. Os pais encantados, contemplam a harmonia do previsível, a certeza do que está sob controle. A brisa envolvente renova a alma, bálsamo campestre, os pitagóricos cimentos otimizados refletem a luz. Idolatram os arvoredos salpicados ao longo da infinita avenida à beira mar. Tudo é tão perfeito nesse instante de líbito que as paixões se edificam, os amores são jurados, as crianças serão eternamente ingênuas, e todos seremos para todo o sempre necessários uns aos outros.

    O sol sacramenta o que se faz, avaliza o que se promete. Por um instante, os cães são alimentados. A paisagem galopa em um puro-sangue branco ao som de Ludwig, e a cena é assinada por Monet. Não mais se cumprimentam, apenas admiram uns aos outros, a plenitude exala do âmago dos homens, como o mais intenso orgasmo. O absoluto é o presente, e o tudo é beatificado. Nietzsche revive, sorri do paraíso adimensional, anacrônico, gaba-se de sua perfeição, e contempla a grandiosidade de seus Zaratustras. Então, um me pergunta como seria Deus se fosse um de nós. Respondo que seria como o puro-sangue, Beethoven, e Monet.

    A brisa se intensifica, o êxtase é violado. As copas vociferam, os reis correm para seus castelos, o astro rei se esconde vulgarmente, com a pompa do mais nobre covarde. As crianças berram desnorteadas pela orla do pavor. Ondas enormes assustam o mais bravo pai, que com as pernas bambas corre em busca da prole como um ínfimo peixe do tubarão. E o estupro se processa, com areia nos olhos de desespero. O enorme jacaré negro devora todos os gatinhos ao som de Mozart, enquanto Dali e Van Gogh se preparam para o trabalho.
    O vendaval toma corpo e destrói rapidamente todas as frágeis cabanas de madeira. Os porcos chafurdam ao lado dos coqueiros caídos, enquanto serpentes e escorpiões atiram para todos os lados como soldados na guerra. O instinto berra, os homens se pisoteiam em busca da salvação, os urubus se empanturram. Um uivo se transforma num grito avassalador, e as nuvens roxas no céu formam o esboço da face de Friedrich, gargalhando, certo de que, ainda assim, foi perfeito. Ao lado, Hitler abraça Marx, que beija a boca de Freud. Então, um grito pergunta se Deus está morto. Replico que não. Outro, choramingando, esperneia e afirma que seria diferente se Deus fosse um de nós. Olho-o de frente, o fulmino com dois raios nas têmporas.

    - Se Deus fosse um de nós, ele seria jacaré, Monet, Hitler, a brisa e o vendaval. Miséria e desgraça sob a luz da salvação.

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  2. A quebra de máquinas durante a revolução industrial foi uma reação às ainda incipientes inovações tecnológicas que roubavam emprego. Hoje, quando a tecnologia levada às últimas consequencias nos rouba o convívio, a naturalidade, a poesia do dia a dia , a alma, a solidariedade e, nos desatentos, a inteligencia, sobrará lucidez para quebrarmos as correntes que nos escravizam ?

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