domingo, 5 de dezembro de 2010

Cuidado! Hipocrisia mata.

Na madrugada de 25 de novembro de 2010, regada a vinho e medo, vislumbro caneta e papel e me ponho a escrever, a fim de convencer a alguns pobres diabos de que não sou um diabo rico, mas apenas, um trabalhador.
Como sair de casa para trabalhar, para manter a casa que me cabe manter, se a rua me é hostil? Como deixar meus filhos irem ao colégio se, entre a casa e o colégio, existe uma rua ameaçadora onde carros de classe media são incendiados sem piedade? Como culpar unicamente os incendiários, se somos todos culpados?

Sou literalmente contra a pena de morte mas, não resisto a idéia de vingança se algum mal acontecer a um dos meus filhos. Nesta hora me sinto triste por ser responsável pela paternidade de tantos filhos jogados neste perigo que é viver numa cidade que se fantasia, carnavalescamente, de democrática mas que vive a realidade da discriminação, dos guetos incrustados na sua geografia montanhosa.

Sejamos sinceros, classe média, sem sofismas, estamos numa guerra que, a longo prazo, não será vencida pelas investidas policiais nem UPPs mas sim, se abandonarmos a hipocrisia e, com atitudes firmes, exigirmos a legalização das drogas em detrimento da morte, do roubo, da marginalização, da degradação moral.

Dessa forma usaremos todos o livre-arbítrio para fazer o que quisermos em relação às drogas - este ícone de tempos, não apenas modernos.

Assim como o sexo e o rock and roll já encontraram os seus caminhos na sociedade, acredito que só a partir da legalização e do apoio ao usuário de drogas, com tratamentos e trabalhos preventivos mantidos de forma auto-sustentável (para usar uma palavra da moda), através de impostos e sem prejuízo para a sociedade, estaremos livres da barbárie, da corrupção e da hipocrisia.

Classe média, a igreja já admite a camisinha. Só nos resta aceitar, verdadeiramente, o ser humano com suas idiossincrasias. Apenas deixar que todos convivam em paz, cada um com sua consciência que é o princípio maior da felicidade.

Ao Estado, deixando de lado performances políticas e ineficientes, apenas caberá administrar, orientar e assistir aos usuários. Quanto ao nosso prejuízo, classe média, será menor tanto emocionalmente e, olha aí o que mais nos comove, financeiramente também. Eu garanto.

Pela legalização.

Tonico Pereira

2 comentários:

  1. Adorei, Tonico! é isso ai! é muito importante vc colocar sua opinião sendo o artista que é. Parabéns! concordo e estou colocando esse link no meu facebook. bjs

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  2. Sem querer entrar no mérito da legitimidade da legalização já, pelo menos das substâncias consideradas mais leves, já que o álcool e o tabaco estão legalizados há tempos. Diria que essa associação entre o tráfico varejista e a violência armada, como se dá no Brasil, nem sempre está presente em outras regiões do mundo. Não necessariamente uma coisa leva à outra. Corro o risco de afirmar, que o pleito da legalização, que considero legítimo repito, trata-se muito mais de luxo das classes médias. Por que o que é mais relevante e prioritário nesse momento, e que todos esses episódioa recentes evidenciam? É descobrir as reais dimensões dos problemas sociais, de pedaços da cidade, completamente fora da cidade, pessoas vivendo fora da lei, bairros inteiros, pequenas e médias cidades, se formos quantificar a população desses locais, é a cidade cindida ou partida como diria Zuenir Ventura. E porque essas questões não sensibilização as classes médias, é que é uma boa questão a ser resposdida.

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