domingo, 19 de maio de 2013

Veias abertas ou O homem que perde pode ser um grande homem


Felizmente, cheguei a um momento reflexivo, como um afogado que, enfim, consegue uma lufada de ar para alívio dos pulmões maltratado pela sua ausência. Constato que o que tenho vivido não tem culpado, ou melhor, sou eu mesmo o culpado. A consciência do passo já dado, alicerça o próximo passo e os outros subsequentes, eu espero.

Venho, não é a primeira vez que digo isso, de uma estrutura familiar bastante carente, culturalmente e financeiramente, pra me distanciar dela me tornei um ambicioso em aperfeiçoar o que escolhi fazer como profissão – a interpretação, e  consegui. De figurante a ator, sem ter feito escola e sem nunca ter feito nenhuma concessão ou prevaricado sexualmente para que tal acontecesse. Pois é. Uma vitória pessoal incrível que, normalmente, é negada a 99% dos brasileiros. Eis-me aqui, podia ser só isso, altamente suficiente para qualquer ser humano. No entanto, isto foi pouco pra mim e precisei acrescentar a isso a arrogância desumana que me acometeu, me lembrando o tempo inteiro que eu sou ótimo, que eu sou o melhor. Mentira. Ninguém é melhor, nem ótimo sendo arrogante. A minha eficiência interpretativa é o punhal que me sangra o coração o tempo todo, me dando a exata medida do homem que sou: um homem desumano .

Se pudesse queria ser apenas um campista pobre, criado pela safra e entressafra da cana de açúcar que sustentava a economia e a miséria da minha mãe terra e dos meus pais e irmãos. Pois é, acreditei que, com o prestígio de ser considerado um bom ator, eu estaria acima dos outros e, a humildade tão necessária ao ator e, principalmente, ao homem, eu deixei de lado e me considerei, a partir disso, um homem invencível. Doce ilusão de um babaca provinciano. Isso tirou toda a minha possibilidade de aceitar que perder é humano e que perder e não vencer é que alimenta o verdadeiro homem.

Peço desculpas a todos que, até hoje, participaram como figurantes da minha arrogância e espero que, a partir de hoje, eu me transforme num verdadeiro vencedor, principalmente, porque perdedor.

Vida, obrigada pela segunda chance. Tentarei aproveitar ao máximo!

Tonico Pereira

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