Felizmente, cheguei a um momento
reflexivo, como um afogado que, enfim, consegue uma lufada de ar para alívio
dos pulmões maltratado pela sua ausência. Constato que o que tenho vivido não
tem culpado, ou melhor, sou eu mesmo o culpado. A consciência do passo já dado,
alicerça o próximo passo e os outros subsequentes, eu espero.
Venho, não é a primeira vez que
digo isso, de uma estrutura familiar bastante carente, culturalmente e
financeiramente, pra me distanciar dela me tornei um ambicioso em aperfeiçoar o
que escolhi fazer como profissão – a interpretação, e consegui. De figurante a ator, sem ter feito
escola e sem nunca ter feito nenhuma concessão ou prevaricado sexualmente para
que tal acontecesse. Pois é. Uma vitória pessoal incrível que, normalmente, é
negada a 99% dos brasileiros. Eis-me aqui, podia ser só isso, altamente
suficiente para qualquer ser humano. No entanto, isto foi pouco pra mim e
precisei acrescentar a isso a arrogância desumana que me acometeu, me lembrando
o tempo inteiro que eu sou ótimo, que eu sou o melhor. Mentira. Ninguém é
melhor, nem ótimo sendo arrogante. A minha eficiência interpretativa é o punhal
que me sangra o coração o tempo todo, me dando a exata medida do homem que sou:
um homem desumano .
Se pudesse queria ser apenas um
campista pobre, criado pela safra e entressafra da cana de açúcar que
sustentava a economia e a miséria da minha mãe terra e dos meus pais e irmãos.
Pois é, acreditei que, com o prestígio de ser considerado um bom ator, eu
estaria acima dos outros e, a humildade tão necessária ao ator e,
principalmente, ao homem, eu deixei de lado e me considerei, a partir disso, um
homem invencível. Doce ilusão de um babaca provinciano. Isso tirou toda a minha
possibilidade de aceitar que perder é humano e que perder e não vencer é que
alimenta o verdadeiro homem.
Peço desculpas a todos que, até
hoje, participaram como figurantes da minha arrogância e espero que, a partir
de hoje, eu me transforme num verdadeiro vencedor, principalmente, porque
perdedor.
Vida, obrigada pela segunda
chance. Tentarei aproveitar ao máximo!
Tonico Pereira
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