terça-feira, 2 de agosto de 2011

IMPRÓPRIO COM SALADA DE INSANO


Certa quinta-feira, lá pelas 18h - que era o meu único dia de folga, em termos - depois de exaustivas negociações bancárias tentando rolar uma dívida e conseguir pagar outras tantas, chegam em casa meus filhos Antonio e Nina, sempre ávidos por uma brincadeira que inclua a minha exausta presença e participação. Adianto-me e proponho ao Antonio:

- Vamos brincar de comer um liquidificador!

Garanto que não esperava uma adesão a minha ideia de forma tão entusiasmada e urgente. Eis que Antonio irrompe pela sala com a parte de cima (o copo) do liquidificador pronto para comê-lo, após colocarmos pimenta e açúcar (por sugestão dele). Quase choro por ter tido a infeliz ideia, e mais ainda por ter insinuado ao meu filho um banquete imponderável. Tento me corrigir e falo:

- Antonio, foi uma brincadeira de um pai velho sem apetrecho físico para uma boa partida de futebol. Comer um copo de liquidificador, mesmo com pimenta e açúcar dentro não passa de um gesto impróprio e insano.

Ele apresentou uma carinha desapontada e depois abriu um sopro de argúcia.

- Pai, então vamos comer o ‘impróprio com salada de insano’! Eu vou chamar a Nina que está fazendo xixi no banheiro.

E saiu correndo.

- Nina, Nina! Vamos comer ‘impróprio com salada de insano’ com o papai!

Fico perplexo. E agora? Ouço a descarga da privada e os dois aparecem. Antonio alegre com o sorriso canhanha e Nina séria me perguntando:

- Pai, o que é ‘salada de insano’?

Vem a mim uma ideia que me daria tempo para pensar em alguma coisa que me livrasse daquela situação.

- Que tal irmos ao Parque dos Patins? Disseram-me que lá tem um ‘impróprio com salada de insano’ que é uma maravilha.

Lá chegando perguntava a todos os pipoqueiros e outros vendedores se tinham ‘impróprio com salada de insano’. Alguns nem chegaram a responder, outros olhavam de forma agressiva e simplesmente diziam que não. Frustrados, eu, Antonio e Nina, sentamos num banco. Nina já começava a choramingar e Antonio balançava as pernas como se dissesse ‘meu pai é um bobo’, quando vislumbro ao longe um vendedor de algodão doce. Gritei:

- Achei!

- Onde? Perguntou Antonio.

- Lá!

- Mas é algodão doce… diz Nina.

- Pois é, é impróprio porque sou diabético, não posso comer açúcar.

Fomos nos aproximando e de perto notei a presença de três algodões doces anilinados de verde, explodi de alegria:

- E tem três com ‘salada de insano’, são os verdes. Obrigado, amigo. Quanto custa os três ‘impróprios com salada de insano’?

Ele não fica chateado com a pergunta, apenas diz:

- 6 reais, os três. O que mesmo que o senhor disse?
- ‘Impróprio com salada verde de insano’.

E fomos nos lambuzando pela Lagoa até chegar em casa, prometendo uns aos outros não contar para a Marina que comemos algodão doce, mas ‘impróprio com salada de insano’! Muito mais adequado a minha diabete.

Tonico.

3 comentários:

  1. Delicioso e inspirador para o dia dos pais =)

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  2. Que maravilha, Tonico! Mas não sei porque acho que a Marina já sabe... tudo bem... só que por essas e outras que sua ambição pela mediocridade nunca se concretizará... e já transmitiu os genes... bj no Antonio,na Nina e na Marina!

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  3. Excelente. Gostaria de colocar no meu mural para meus amigos lerem. É só você autorizar. Gande abraço!

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