sábado, 17 de julho de 2010

Reflexões de um analfabeto indignado ou Faltou Didi no Kaká

Havia um tempo em que o povo brasileiro viabilizava a sua sobrevivência, agarrando-se como afogado a qualquer coisa que boiasse perto dele. Muitas das vezes, esta coisa era, por exemplo, a bola, réplica menor de um mundo redondo, no qual os craques exerciam as suas conquistas e a maior era a sobrevivência própria.
Bons tempos, sem saudosismos, em que uma junta médica russa, certamente, invibializaria um Garrincha para a prática do futebol, sem levar em conta que a necessidade do prazer, do lúdico e da sobrevivência seria capaz de contrariar qualquer diagnóstico e transformá-lo em “alegria do povo”, para alegria de todos que o viram jogar. Tenho certeza que fez jogadas monumentais nos vários campos da sua vida, muitas das vezes, apenas para ganhar a dose de cachaça ou aquela cerveja apostada no início da pelada com o time contrário, onde só lhe cabia vencer ou vencer, pois não teria dinheiro pra saudar sua dívida se o imponderável acontecesse.
Estamos em 2010. Nossa selecão já ultrapassou (burramente) a necessidade da sobrevivência, íntima motivação do homem, mergulhados num consumismo exagerado de carros, jóias, mulheres e etc., esquecendo-se que a sobrevivência jamais deixará de existir e será sempre a motivação maior para o homem e sua existência.
O jogo é contra a simpática Holanda. Nós temos jogadores bons, sem dúvida, mas incapazes de segurar um placar a favor, muito menos reverter um contrário. Ah, Didi, porquê você, nascido na Lapa de Campos, rezado e abençoado por todos os orixás à beira do Paraíba, não se incorporou no Kaká e, com sua sapiência, hoje de preto velho, mas, em 1958, de preto ainda novo, liderasse os micigenados brasileiros e, com a bola debaixo do braço, calmamente caminhando em direção ao meio de campo, fosse falando aos colegas, “nós somos muito melhores do que eles, vamos botá-los na roda e ganhar esse jogo” e, dirigindo-se, particularmente, ao Felipe Melo, “joga bola rapaz, dê outros passes daqueles que só o Gerson poderia ter dado pro Robinho, mas não faça merda” e, incisivo, “dê a saída, Luiz Fabiano, toque prá Robinho, dele prá mim (Kaká incorporado pelo Didi) e eu esticarei na ponta onde alguém, incorporado de Garrincha, tornará lúdica, prazeirosa e vitoriosa a nossa pelada”.
Didi, em 1958, promoveu a nossa verdadeira independência, diante dos louros suecos e de um placar adverso e, sem usar palavras bélicas, somente disse para os micigenados brasileiros “vamos pôr eles na roda”.
Neste momento me cai a ficha. Kaká é evangélico e jamais se permitiria ser incorporado pelo Preto Velho Didi. Bom, pior prá ele e pro Brasil também.
Observação que não quer calar:
Durante toda a copa, eu só vi o Dunga esboçar um sorriso em comerciais variados na televisão. Será que a CBF estava com o salário atrasado?
Saudades também do velho Feola. Ele dormia enquanto a seleção jogava, e bem!
Nossos jogadores comiam sem fartura, mas o suficiente para se manterem agéis e capazes de tourear nossos adversários, invariavelmente, bem alimentados e grandes.

Ass.: Brasil

OBS.: Escrito por Tonico Pereira.
OBS2.: Corrigido e digitado por Marina Salomon em troca de nada.

Um comentário:

  1. Comentário postado por Edward no antigo wordpress:

    Vitoria do futebol feio, grosso, violento.
    Vitoria do futebol rico, gordo, viril, sem jogo de cintura.
    Vitoria do futebol feio e pouco eficiente, de um só gol e da desvalorização da arte de jogar bonito.
    Reflexo dos anos difíceis que vivemos?
    Da falta de clareza, de ética, de princípios?
    Onde os fins justificam qualquer meio para se vencer…
    Todos venceram na África do Sul, mas o futebol perdeu.
    Assim como no processo eleitoral antidemocrático todos vencem, mas quem perde é o povo…

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