“Ser ou não ser?” É o pensamento
mais intimista (na minha visão) da obra de Shakespeare. No entanto, os atores
guiados pela primeira leitura do texto - associada à sacralização que envolve o
próprio Shakespeare por ser um clássico (ignoram que ele vem do popular mesmo)
– propõem invariavelmente ao público a decisão da sua angústia de forma
declamatória. Quando, na verdade, ela é só do Hamlet e poderia nem ser exposta
verbalmente para a plateia, mas apenas suprimida ou substituída por um olhar e
com ele explicitar toda sua dúvida existencial, orgânica e, ao mesmo tempo,
prática. Para aí, com o seu atuar, definir por si se é ser ou não ser e não
impor esta dúvida que, certamente numa era shakespeareana, dada a sua condição
de popular, entraria na arena como um Chacrinha e perguntaria à plateia: “Quem
é Ser levanta a mão, agora quem é não Ser levanta a mão”. E declararia em
voz alta: “Foi decretado pelo público presente custeador do meu pão diário ooo
empate!”. O resultado seria absurdo, tendo qualquer ganhador. Portanto,
senhores atores, deixem que os seus personagens Hamlet, tenham por si o prazer
da dúvida. O que, em tempos contemporâneos, seria apenas sentida por ele (Hamlet),
sem a necessidade da verbalização. O resto é o ator querendo ir além da vida e,
portanto, do Teatro, onde só cabe a cada participante a humildade como prazer
dos Deuses verdadeiros dos Palcos.
PS.: quase sempre o ator que vai
assumir o personagem Hamlet traz para si a responsabilidade de declamar “ser ou
não ser?”. Pois saiba este ator que “ser ou não ser?” é apenas uma reflexão e
não uma declamação imposta pela sacralização de um Shakespeare, que só queria o
aplauso dos amigos na plateia.
Tonico (O Analfabeto que Escreve...
Mal)
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