Sou um ator de aluguel. Talvez muitos não saibam disso, mas não importa, eu sei, e isso me basta para reger as minhas relações com a profissão. Isso também me permite ser ignorante em se tratando de leis de incentivo; até agora nunca usei e gostaria de poder dizer não usarei, mas o futuro não me é dado a conhecer antes que ele aconteça. Mas vamos ao que interessa, como já disse sou um ator de ofício, sem essa de artista, estado que podemos alcançar, se alcançarmos, em um segundo, numa pausa, num gesto, depois de três meses de ensaios, de um ano de apresentações, onde só o ofício vigora exercendo a pretensão de estarmos vivos, para nos tornarmos Deus quando este segundo acontece. Gosto de ter opinião, gosto de emitir minha opinião, mas não consigo caricaturar ninguém com adjetivos advindos de uma visão mesquinha, só para parecer, a mim mesmo, mais forte e inteligente, apesar de estar escudado numa casamata chamada internet/computador, que protege e esconde. Pela prática do meu ofício, entendo um pouco do ser humano. Não conheço a Maria Bethânia pessoalmente, mas conheço a sua obra, e gosto. Não conheço os custos de uma produção, apenas o que me cabe como salário, que não é muito. Não tenho partido político, apenas votava com prazer maior quando Brizola vivia. Mas pelo pouco que conheço do ser humano e por alguns contatos que tive com Jorge Furtado, aceitando inclusive que ele talvez possa exagerar na defesa de suas idéias, posso garantir que ele não merece, nem por sua obra, que já atingiu vários momentos de arte, nem por sua pessoa, inteligente, culta, talentosa, trabalhadora (e amante do vinho), os adjetivos peçonhentos a ele dirigidos neste embate que deveria ser de idéias, para que todos pudessem melhorar como diretores, atores, autores, produtores e platéia. Poderia depor contra este meu posicionamento o fato de eu já ter sido contratado algumas vezes pela Casa de Cinema de Porto Alegre e que eu estaria pavimentando outras contratações, mas quem me contrata convive com as minhas opiniões e direitos, por isso, sempre que trabalho longe do meu Rio levo no bolso o dinheiro vivo que poderá me trazer pra casa em caso de uma incompatibilidade maior. Jorge, portanto, sabe quem ele está contratando e os riscos que corre.
Salve Jorge!
Tonico Pereira.
É sempre um alento ouvir alguem falar de direitos e opiniões e independencia capaz de descartar a convivencia na incompatibilidade. Em meio ao odor de boiada passiva que predomina nos novos comportamentos... Salve Tonico! Salve Brizola! Salve a esperança em nossos filhos!
ResponderExcluirPois é, rapaz, esses tempos nos quais todas as opiniões tendem ao fundamentalismo.... Pena que não saibam como é bom viver em meio a pluralidade de idéias e a elegância na manifestação de ponto de vista... ainda que apaixonadamente....
ResponderExcluirQuando eu digo o que digo de vc é cheia de motivos, entende?
ô toniquinho... que lindo...
ResponderExcluirbela escrita!
bjs